domingo, 24 de agosto de 2008

Caçando sapo, comendo mosca


Um dia me falaram:
- Vá caçar sapo!
E eu fui.
Peguei lanterna e um saco e me mandei. Andei, andei, até que cheguei.
Era um brejo cheio de coaxos e cricrilos. Olhei, procurei, espiei. E de repente encontrei. É, de olhos esbugalhado, lá estava ele, um gordo e rugoso sapo. Quando apontei a lanterna na cara do bicho, o danado gritou:
- Apaga o facho.
Então, também de olhos esbugalhado, gaguejei :
- Vo...você fa... Fala?
o danado boquejou :
- Vo... Você escuta? Então apaga!
Mais que depressa, apaguei a lanterna.
- Assim é melhor, tenho olhos sensíveis, sabia?
Naquela altura do campeonato, eu não sabia de mais nada.
- O que você veio fazer aqui? O sapo quis saber.
Tentei disfarçar, escondi o saco e respondi :
- Vim tomar um ar.
Mas já era tarde, pois ele tinha espichado os olhos e visto o saco.
- Sei. E aproveitou pra trazer o saco pra apanhar vento?
Corei de vergonha e confessei:
- A verdade é que me mandaram caçar sapo, seu sapo.
- E pra quê?
- Sei lá.
- Se não sabe, quem sabe?
- Não sei, só sei que não sei.
- Não sei não. Um saco para por um sapo...
- Só se for pra bater o papo.
- Mas sapo não bate papo.
- Mas nós não estamos batendo, seu sapo?
- É, estamos. Concordou o sapo.
- Então, não quer entrar no saco?
- Pra quê?
- Pra ver o por quê.
- Não sei, só sei que não sei.
- Então, dá uma sacada. Abri o saco pro sapo.
Ele espiou, espiou e falou :
- Não. Não entro no saco e fim de papo.
E saiu saltando.
Eu fiquei ali, comendo moscas.
Mas que sapo sabido.
- Hei, seu sapo. O senhor é um sábio?
Ele, de longe, coaxou:
- Não, não sei se sou.
E sumiu na escuridão.
Voltei com o saco sem o sapo, só matutando...
-“Eita” sapo sortudo sô.
(História escrita e enviada por Roberto Isler)

domingo, 17 de agosto de 2008

A Galinha dos Ovos de Ouro


Era uma vez um homem muito pobre. Tão pobre que, na sua casa - uma cabaninha de pedra no limiar do bosque - não havia sequer uma cama. O recheio da casa consistia numa mesa, uma cadeira, uma tigela e uma colher de madeira. Além disso, fosse de Verão ou de Inverno, o pobre homem trazia sempre vestida a única roupa que possuía: farrapos. Em relação à alimentação, não se pode dizer que as coisas corressem melhor, pois passava o ano a comer frutos silvestres, raízes e chicória. Só com a chegada do Outono é que variava, comendo as castanhas que ia apanhando aqui e ali. Com fartura apenas tinha água, pois corria um riacho ao lado da sua cabana.Certa tarde em que se anunciava uma violenta tempestade, o pobre homem, de estômago vazio, tremia de frio deitado na enxerga. Foi nessa altura que bateram suavemente na porta três vezes.«Quem será?» - perguntou a si mesmo. - «Nunca vem ninguém para estes lados... e ainda por cima com este tempo!»Levantou-se e foi abrir a porta.Encontrou um velho com uma longa barba branca, envolto num pesado manto, com um grande alforje a tiracolo.- Bom dia - disse. - Espero não vir incomodá-lo. Ia a passar e fui surpreendido pela tempestade. Posso descansar durante algum tempo e sentar-me à beira do lume?- Claro! Entre! - respondeu o pobre. - Mas não pense que vai encontrar aqui calor ou um banco onde se possa sentar... Como vê, aqui não há nada, mesmo nada... No entanto, se quiser, pode acomodar-se.O velho sentou-se e começou a falar disto e daquilo. Enquanto conversava, os seus olhos iam inspecionado o casebre. Por fim, comentou:- Você não deve passar nada bem, vivendo aqui...
- Só por milagre é que ainda não morri de fome. Não como há quase dois dias.- Ah, lá por isso...O velhote tirou então do alforje pão, queijo e um cantil de pele cheio de vinho que, de seguida, dividiu com o dono da casa. Este, só de ver comida, quase ia perdendo os sentidos.Terminada a refeição, o velho levantou-se e disse: - Agora tenho de o deixar, bom homem. A minha estrada é longa, muito longa...Em seguida, meteu a mão numa dobra do grande manto, até àquele momento cuidadosamente fechado, e retirou algo que, depois, pousou no chão de terra batida.O pobre homem ficou surpreendido. Tratava-se de uma galinha, de uma linda galinha vermelha que, mal se viu livre, começou a saltitar pelo quarto, debicando as migalhas de pão que haviam ficado do jantar.- Trate bem dela, peço-lhe. Resista à tentação de a comer, pois, como verá, ela põe um ovo todos os dias.Dizendo estas palavras o velho sorriu e pareceu-me piscar o olho, mas talvez tenha sido apenas uma impressão. Depois, acrescentou:- Há-de ver que ela lhe dará muitas alegrias.Fez um último aceno de despedida, abriu a porta e desapareceu no meio da tempestade.«Uma galinha, uma galinha...», ia repetindo de si para si o homem. «Como terá ele conseguido mantê-la sossegada durante aquele tempo todo debaixo do seu manto? Isto é tudo muito esquisito!» Estendeu-se de novo na enxerga e adormeceu profundamente. Na manhã seguinte, ao acordar, nem sequer se lembrava que tinha um animal em casa. Mas, quando esticou as pernas para se espreguiçar, sentiu que havia qualquer coisa fria e lisa aos pés da sua pobre cama. Levantou a cabeça olhou para o fundo da sua enxerga e viu um grande ovo. Mas não era um ovo branco como os outros; era amarelo e brilhante... de ouro! Era de ouro maciço!com as suas mãos, de verificar o seu peso, de o polir com uma ponta da sua túnica esfarrapada, enquanto a galinha saltitava à sua volta como se não fosse nada.À noite o pobre quase não conseguiu dormir, tal a excitação que sentia. E maior foi o seu espanto quando, ao acordar, encontrou um segundo ovo na enxerga.Foi então que pensou: «Vou esperar por ter uma dúzia e, depois, irei à cidade vendê-la. E assim fez. Com o dinheiro que ganhou comprou uma casinha com um terreno que começou a cultivar. Contudo, ao fim de um mês disse para si próprio: «Que tolo eu sou! Para quê trabalhar se agora sou rico?»Então, vendeu a casa e o terreno e comprou um palácio. Tinha muitos criados, passeava de liteira, dava jantares e festas suntuosas e rapidamente conheceu os cidadãos mais poderosos.Mas depressa sentiu que nem toda esta riqueza lhe bastava. O seu desejo era tornar-se o rei da região. Para o conseguir teria que formar um exército e marchar em direção à capital. Quantos ovos de ouro seriam necessários para comprar todos aqueles soldados? E quanto tempo de espera?Um dia pôs-se a pensar: «É evidente que, se esta galinha põe ovos de ouro, deve ter ouro na barriga...e deve ser tanto, tanto... Que estúpido sou eu em esperar, quando posso conseguir tudo de uma só vez!»Sem pensar duas vezes subiu em direção ao grande terraço onde, às escondidas dos criados e dos amigos, guardava a galinha. Então, prendeu o animal e, sem piedade e nenhum reconhecimento pelo que ele lhe fizera, cortou-lhe o pescoço.E eis que, como por encanto, tudo desapareceu: desapareceu o palácio, desapareceu a criadagem, desapareceram os cofres cheios de dinheiro e até as ricas roupas que vestia desapareceram. Deu consigo envolto pela escuridão e acossado pela tempestade, só e andrajoso, diante da porta da sua cabana, mais pobre que nunca.

FIM

Moral da história: «quem tudo quer, tudo perde».
(História enviada por Amauri de Oliveira)