quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Uma visita de São Nicolau



Era véspera de Natal, e a casa dormia
Nem mesmo um camundongo por ela se movia
As meias, na chaminé, esperavam, de leve
Que São Nicolau chegasse em breve

As crianças dormiam entre quentes cobertas
Sonhando com os doces que viriam na certa
E eu e a mamãe, de lenço e boné
Ressonávamos tranqüilos, noite afora até

Que um estrondo lá fora chamasse a atenção.
Levantei-me para ver qual era a confusão.
Como um relâmpago corri para a janela
Abri as persianas, a cortina que velai

E a Lua que reluzia sobre a neve recente
Iluminava a cena como um sol nascente
E diante dos meus olhos surgiram, repentinos,
Oito renas minúsculas e um trenó pequenino

Com um velho à rédea, feliz e com pique
Logo tive a certeza de que era São Nick
Rápido como uma águia, o trenó voava
E ele, entre assobios, cada rena chamava

“Vamos Dasher, vamos Dancer, vamos Prancer e Vixen!
Vamos Comet, vamos Cupid, vamos Donner e Blitzen!
Por sobre a varanda e por sobre o telhado!
Voando, voando, por todos os lados!”

E como folhas secas ao vento do furacão
Que não respeitam barreira à sua ascensão
As renas voavam casa acima, pelo céu
Puxando o trenó, brinquedos e Noel

E depois eu ouvi, por sobre o telhado
Os cascos se movendo em tom ritmado
E quando fechei a janela e me virei para olhar
Da chaminé percebi São Nicolau saltar

Vestido de peles, dos pés à cabeça
Coberto de pó e de fuligem espessa
Ele trazia às costas brinquedos variados
Como um vendedor chegando ao mercado

Seus olhos brilhavam, e seu rosto sorria
Na face rosada o nariz reluzia
Sua boca se abriu em um sorriso breve
E a barba em seu queixo era branca como a neve

O homem trazia um cachimbo entre os dentes
E a fumaça cercava seu rosto sorridente
Seu rosto pequeno e barriga arredondada
Se moviam como gelatina quando ele dava risada!

Tão gorducho e redondo, o alegre pequenino
Que sorri sem nem notar, ao vê-lo, ladino,
Me fazer um sinal, uma leve piscada,
Indicando situação nada arriscada

E sem uma palavra ele fez seu trabalho,
Enchendo as meias, e girando no assoalho
Ergueu um dedo em sinal de despedida
E pela chaminé procurou a saída

Saltou ao trenó, com um forte assobio,
E saíram aos ares com um rodopio
Mas o ouvi exclamar, no momento final
“Meu boa noite a todos, e um feliz natal”


 Clement Moore em 1822, chamado "The Night Before Christmas".  

domingo, 9 de agosto de 2015

A colheita do saci



No tempo das colheitas, já meu pai dizia: Aparecem, às vezes, pés de café sem grãos. Não é praga da planta, não. As cerejas foram colhidas à mão. O pé só fica com as folhas.
Sabem que colheu? O saci.
O saci só colhe de noite. E faz o trabalho num átimo. Lá numa fazenda da Mantiqueira, o diabo do saci colheu, de um dia para outro, todas as cerejas de um cafezal, deixando o fazendeiro na mais negra miséria.
Sabem por quê?
Não deixaram um pé de café para o saci, na safra anterior.
Em toda colheita, não se deve esquecer de deixar um pé de café para o negrinho de um pé só e de carapuça vermelha.
Quem se esquecer, está arriscado a perder todo o seu cafezal.
 
Observação: Esta história se prende ao "ciclo do saci".

(Ribeiro, Joaquim. Os brasileiros. Rio de Janeiro, Palas; Brasília, Instituto Nacional do Livro, 1977, p.279) 

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

HISTORIA PRA NINAR GIGANTE



Um rei medroso
Ordenou que fossem mortos
Todos os pássaros do seu reino.
Assim se cumpriu.

Daquele dia em diante
O canto que nascia vinha das entranhas das pedras.
Deu-se uma quebra no encantamento das coisas
E dragões desembocaram do espaço.
Parecia que o mundo inteiro findava.

O rei,
Desobrigado de sonho,
Fechou os seus olhos de esquecer de acordar.
Então, as crianças se aliaram aos poetas
E desenharam um poema
De passarinhos ressuscitados.

Foi aí que pequeninas pedras
Animaram-se a levitar.
Pouco a pouco ganharam penas,
Bico, asas, gorjeio de pássaro.
E as crianças descobriram
Que pedrinhas coloridas são passarinhos disfarçados de chão.
Segredo milenarmente guardado.
Só o sabem as crianças e os poetas.

 (Nara Rúbia Ribeiro)

domingo, 17 de maio de 2015

O Eclipse do Sol


        O CAPITÃO AO PRIMEIRO SARGENTO
                Amanhã haverá eclipse do Sol, o que não acontece todos os dias. Mande formar a Companhia, às sete horas, em uniforme de instrução.Todos poderão, assim, observar o fenômeno do qual darei explicações. Se chover, nada se poderá ver e os homens ficarão em formação no alojamento, para a chamada.
        O PRIMEIRO SARGENTO AO SEGUNDO SARGENTO
                Por ordem do sr. capitão, haverá eclipse do Sol, amanhã. O capitão dará explicações às sete horas, o que não acontece todos os dias. Se chover, não haverá chamada lá fora. O eclipse será no alojamento.
        O SEGUNDO SARGENTO AO CABO
                Amanhã, às sete horas virá ao quartel um eclipse do Sol em uniforme de passeio. Se não chover, o que não acontece todos os dias, o capitão dará, no alojamento, as explicações.
        O CABO AOS SOLDADOS
                Atenção: Amanhã, às sete horas, o capitão vai fazer um eclipse do Sol em uniforme de passeio e dará as explicações. Vocês deverão entrar formados no alojamento, o que não acontece todos os dias. Caso chova, não haverá chamada.
        ENTRE OS SOLDADOS
                O cabo disse que a manhã o sol, em uniforme de passeio, vai fazer eclipse para o capitão, que lhe pedirá explicações. A coisa é capaz de dar uma bela encrenca, dessas que acontecem todos os dias. Deus queira que chova.
*            *            *            *            *            *            *
                Esta não é apenas uma simples piada, mas um reflexo da realidade. Demonstra que nem sempre ouvimos bem o que nos dizem e a facilidade com que deturpamos os fatos.

Citado em:
BORAM, Pe. Jorge.
"Curso de Dinâmica para Liderança Cristã"
Paulinas

4ª ed., pág.117-118

sábado, 21 de março de 2015

Preguiça


Preguiça não lava o umbigo 

E, se lava, não enxuga.
Preguiça não cozinha feijão 
E, se cozinha, pede a alguém pra comer por ela.
Preguiça não faz caminhadas 
E, se faz, vai carregada.
Preguiça não compra livros 
E, se compra, pede que o livro já venha lido.

Preguiça sonha que o mundo acabe 
em almofadas macias para ela se recostar
em baldes de sorvete de creme para ela 
se arregalar.

Tangolomango








Eram oito formiguinhas morando num tagete 

Deu tangolomango numa e das oito ficaram sete.
Das sete que restaram 
Uma se afogou no orvalho 
Outra partiu com um bem-te-vi e ficaram cinco que eu vi.
Dessas cinco que restaram 
Uma tropeçou num pato e das cinco ficaram quatro.
Das quatro que ficaram 
Uma foi imitar o cabrito montês 
Quebrou o pescoço, meu bem, e das quatro ficaram três.
Destas três que restaram 
Uma foi passear na lua 
Deu o tangolomango nela e eis que ficaram duas.


Destas duas que ficaram 

Uma resvalou na espuma e restou apenas uma.
Esta uma que ficou foi jogar paciência
Deu tangolomango nela e acabou-se a descendeência

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Chuva e sol


Adelina Lopes Vieira

Junta ao pendor do abismo e suster-se sozinha;
quase a tombar no mal, lutar vencendo o mal,
é difícil, é belo! Eu vi exemplo igual
na ingênua candidez de linda criancinha.

Disse a mamãe, um dia, à loura Georgeana:

— Se até anoitecer, eu não te ouvir chorar,
nem dar gritos, prometo, amor, ir-te comprar
uma nenê gentil, d'olhos de porcelana.

Apenas isto ouviu, a bela pequenita

dança e salta a cantar, com tal sofreguidão,
que entontecendo, cai, ao comprido, no chão.
Esqueceu-lhe a promessa. Ei-la que chora e grita.

— Prantos? adeus boneca. Ouvindo esta ameaça,

ergue-se Georgeana e diz muito ligeira,
mudando o choro em riso, e com imensa graça.
— Chorei... por brincadeira...